sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mercado da Pregação

"Por onde forem, preguem esta mensagem: ‘O Reino dos céus está próximo’.
Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; dêem também de graça." (Mt 10:7,8 - NVI)

Eu me recordo de ouvir, já há algum tempo, pregadores sérios e comprometidos com o Evangelho advertindo os ouvintes quanto ao perigo em dar valor a qualquer tipo de pregação. As mensagens que exigissem do fiel algum tipo de esforço financeiro para ser abençoado por Deus deveriam ser rejeitadas e combatidas. Demorou muito tempo, mas aprendemos que a bênção de Deus está relacionada a muitos outros fatores além da oferta. É claro que a oferta tem sim o seu valor no culto cristão, mas não é mérito para se alcançar o favor do Senhor.
Outro problema que enfrentamos hoje no "mercado da pregação" não é o pregador de falsas doutrinas, é o pregador da doutrina verdadeira, aquele que ensina a Verdade, luta contra as heresias e defende o genuíno Evangelho, mas o faz por um preço, fixado em contrato e tudo mais.
A Bíblia é claríssima quanto à dignidade de sustento para aqueles que vivem para anunciar o Evangelho (1 Cor 9:4-14; 2 Cor 11:8; Fp 4:15-19) e contra isto não há o que se argumentar, mas entre sustentar-se e ficar rico às custas do Evangelho há uma enorme diferença.
É impossível associar esta conduta às Escrituras Sagradas e ao Jesus que é pregado através delas. Não podemos crer que aquele Cristo que nem tinha onde reclinar a cabeça concorde com o enriquecimento ilícito daqueles que pregam em Seu nome.
Estamos prevenidos contra homens que pregam o evangelho de riquezas, mas a todo tempo ouvimos os profetas de Mamom interessados nas riquezas pregando o Evangelho de Cristo. Diante da pregação destes homens eu sinto a impressão de ouvir o eco das palavras de Jesus dizendo: "Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem, pois dizem uma coisa e fazem outra!" (Mt 23:3).
Não é raro tentarmos convidar um ou outro pregador de nome para ministrar em nossas igrejas e não sermos capazes de cumprir suas exigências. Os mensageiros do Carpinteiro de Nazaré estão exigindo, além de um cachê de no mínimo quatro dígitos e que não comecem com o número "1", transporte de luxo, estadia em hotel de alta qualidade com direito a acompanhante, pagamento adiantado e outras mordomias dignas de um rei. São verdadeiros pop stars.
Há cantores e pregadores que para adorarem a Deus por no máximo uma hora e meia, exigem valores altíssimos, e caso a igreja não possa corresponder ao valor pedido não haverá adoração com a presença majestosa de sua grandeza no culto. Recentemente procuramos uma cantora para participar de um congresso em nossa igreja, mas não pudemos arcar com o cachê de R$ 13.000,00 pedido por ela para cantar com play-back...
Houve também o caso de um famoso pregador avivalista que chegou a vir ministrar por um cachê de R$ 5.000,00. Embora o valor já estivesse de ótimo tamanho para quem ministra em mais de trinta cultos por mês, os irmãos o agraciaram com uma oferta de R$ 18.000,00 em resposta à súplica feita por ele após a mensagem.
Que evangelho é este, meus irmãos?
Você imagina Jesus adentrando as portas da igreja como fez na purificação do templo? Será que não estamos permitindo que transformem a casa do Deus vivo em covil de ladrões?
Já que estão "vivendo para obra de Deus" por que será que estes tão empenhados pregadores não se engajam na obra missionária e vão fazer missões onde é realmente necessário? Talvez o problema seja o cachê... Seu galardão está sendo entregue aqui mesmo.
Você já imaginou quantas famílias carentes seriam atendidas com R$ 23.000,00 no caixa da assistência social da igreja local? As melhorias necessárias à igreja seriam prontamente realizadas com muito menos, mas preferimos entregar as primícias da nossa bênção a quem nada fez por nossas igrejas a não ser animar a plateia durante uma hora.
Estamos cansados de pão e circo nas igrejas.
Precisamos urgentemente reformar nossa cultura sensacionalista e investir nosso dinheiro naquilo que é pão de verdade. Se o que gastamos com os shows experiencialistas fossem gastos em cursos teológicos ou em seminários de boa qualidade, certamente não estaríamos alugando pregadores, mas formando pregadores do mais alto nível para ministrar gratuitamente em nossas igrejas.

Em Cristo,
Marcelo Reis.

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Unção de Objetos à Luz da Bíblia

O Brasil é um país riquíssimo em diversidade. Se há diversidade cultural e étnica nesta vasta nação, imagine o que há nas variantes teológicas! Neste país acredita-se em tudo e para todo o tipo de ensinamento há seguidores.
Como igreja, é necessário termos a Bíblia sempre à frente das decisões, principalmente na escolha das práticas litúrgicas e diversas do dia-a-dia, pois a convivência com a cultura da diversidade pode nos levar continuamente a introduzir no culto cristão algumas práticas pagãs e antibíblicas.
Entre os muitos erros que deixamos de evitar está o mau uso do óleo da unção. Muitos crentes, na intenção de fazer a coisa certa acabam por dar ao óleo da unção funções estranhas às que ele realmente tem.
Sob uma interpretação equivocada de Ex 30:22-33 tomam a liberdade de usar o óleo para ungir objetos de uso pessoal, casa, carro, moto, bicicleta, portas, portais, mobília da casa e outros objetos inanimados. Para não incorrer neste erro é preciso ter consciência de que Ex 30:22-33 fala da manipulação de um óleo encomendado por Deus para ungir os utensílios do santuário de forma que estes fossem santificados e santificadores; tudo o que eles tocassem seriam santos. Ele serviria também para ungir Arão e seus descendentes que foram consagrados a Deus para o serviço sacerdotal no santuário. Os vv. 32-33 deixam claro que com ele não se ungiria a carne do homem comum, principalmente se este fosse um estranho, e que o povo estaria terminantemente proibido de compor um outro óleo semelhante a este ou usá-lo sobre um estranho, e isto sob pena de extirpação de entre o povo de Deus.
Este texto é demasiadamente claro quanto à diferença entre o óleo da unção que ungia os utensílios do santuário e este óleo que vemos hoje ungindo tudo o que se quer ungir.
Fora deste texto, não existe nenhuma referência bíblica sobre ungir objetos.
Além da inadequada unção de objetos de uso pessoal, ainda podemos observar no meio evangélico uma onda de rosas ungidas, travesseiros, cajados, chaves, lenços , envelopes [?!] e qualquer coisa que a criatividade for capaz de fazer para chamar a atenção , como uma fotografia, também poderá ser ungida.
Como se não bastasse todas estas coisas serem ungidas inadequadamente, em muitos  cultos podemos presenciar a unção de pessoas em atacado. Sim, pessoas com os mais variados tipos de problemas sendo ungidas à uma, quando a Bíblia apenas recomenda a unção de pessoas enfermas (Tg 5:14). São ungidos hoje no meio do povão os incrédulos, os bêbados, os viciados e até os endemoninhados, tudo em nome de Jesus e como se tivesse alguma aprovação bíblica para isso. É preciso tomar cuidado para não banalizar a atuação do Espírito Santo entre nós.
Quando conhecemos o verdadeiro significado do óleo da unção nosso entendimento se abre contra os ventos de doutrina que giram em redor dele. Assim como a água do batismo simboliza o Espírito Santo quanto à lavagem da regeneração (Tt 3:5), o óleo da unção simboliza a ação do Espírito quanto à cura divina, ao bálsamo que alivia toda a dor. Ungir objetos para livrá-los da intenção do maligno é o mesmo que batizá-los em água para declarar que são de Deus, ou seja, é teologicamente ridículo e averso ao propósito do óleo do santuário.
Não é possível invocar o Espírito de Deus sobre objetos inanimados, mas sobre crentes. Também não podemos invocá-lo sobre bêbados, endemoninhados, viciados ou qualquer outra pessoa que não o tenha aceitado como Ajudador.
Devemos sim cuidar de cada ato de nossos cultos primando pela ortodoxia, combatendo as inovações antibíblicas e lutando por preservar a integridade da fé que foi dada aos santos de uma vez por todas (Jd 3).


Marcelo Reis.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

É Correto Crer na Regeneração Batismal?

"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." João 3:5

Passar pelas águas do batismo é uma experiência de tamanha grandeza que eu não poderia simplesmente explicar usando palavras. Porém, o significado do batismo ainda é algo desconhecido para uma boa parte dos cristãos já batizados.
Muitos irmãos vêem no batismo um evento de lavagem de pecados literal, como se entrassem nas águas contaminados pelo pecado e saíssem purificados. Alguns chegam a justificar-se diante de alguma irresponsabilidade diante de Deus e da igreja utilizando o famoso "ainda não sou batizado", quando deveria dizer "ainda não sou convertido".
Além de não possuir valor salvífico algum, o batismo também não perdoa nem purifica pecados. É através do sangue de Jesus que somos purificados de todo o pecado (1 Jo 1:17),  e é nele que branqueamos nossas vestes (Ap 7:14).
O batismo em águas é a confissão pública da fé no Senhor Jesus Cristo, onde sepultamos - simbolicamente - o velho homem que viveu em pecados e morreu para o mundo, e que agora nasce para uma nova vida submissa à vontade de Deus. Deve-se portanto ter em mente que esta confissão e este sepultamento simbólico vem tornar público aquilo que já aconteceu, no ato da conversão, quando o pecador decidiu entregar-se a Jesus e o recebeu como Salvador.
Não há uma única base bíblica sequer para crermos que o batismo tenha um valor real para remoção de pecados, ou que ele produza uma regeneração espiritual na vida de quem se submete a ele. Crer nesta linha de pensamento chega a ser um atentado contra a doutrina do Novo Nascimento.
Alguém que passou pelas águas batismais e não entregou a vida ao Senhor não passou pelo Novo Nascimento. Se um pecador desce às águas sem conversão, de maneira alguma será limpo de seus pecados, entrará nas águas um pecador seco e sairá um pecador molhado, nada mais. Todavia, se alguém desce às águas depois de entregar-se a Jesus Cristo, antes mesmo do batismo seus pecados já foram perdoados, pois já terá crido no Senhor Jesus, já terá abandonado sua vida de pecados e está pronto para tornar isto público.
A crença na regeneração batismal fundamenta-se na interpretação equivocada de versículos como João 3:5 e I Pedro 3:21.
No primeiro caso, Jesus está instruindo o fariseu Nicodemos sobre a necessidade de nascer de novo (em grego nascer de cima) dizendo que "aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus". O problema da interpretação aqui é deixar-se esquecer que a água do batismo é uma figura do Espírito Santo que convence o pecador de seus pecados, levando-o ao arrependimento e à entrega pessoal a Cristo, que por sua vez lhe purifica de todo o pecado através do Seu sangue expiador. O "nascer de novo"  aqui não significa ser batizado, mas transformado.
No segundo caso, em I Pe 3:21, o apóstolo está parafraseando a salvação da família de Noé sobre as águas do dilúvio e a salvação dos crentes REPRESENTADA (e não causada) pelo batismo. Pedro está dizendo que oito pessoas se salvaram do dilúvio pela água, que como uma verdadeira FIGURA agora nos salva, o batismo. Ele completa esclarecendo que a figura batismal não salva através da remoção da sujeira do corpo, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo.
Não fica difícil compreender o paralelo que Pedro faz entre o dilúvio e o batismo quando fazemos com ele a comparação. Veja: As oito pessoas foram salvas do dilúvio através da água ou da arca que os fez escapar da água? Sem dúvida nenhuma sua salvação foi o resultado da obediência à Palavra de Deus que lhes ordenou entrar na arca. Esta água do dilúvio simboliza o batismo do ponto de vista do pecador dos dias de Noé: quem "entrou na arca" para se salvar foi salvo, quem não deu ouvidos à pregação de Noé foi vítima da ira de Deus. Comparado a este evento, o ato do batismo está nos dizendo que a pessoa a ser batizada já tomou sua decisão de entrar na arca e está agora tornando pública a entrega de sua vida ao Senhor Jesus. Paralelamente, esta pessoa é como uma das oito que entraram na arca e se livraram da ira de Deus.
Mas a relação do dilúvio com o batismo é tão simbólica que nem todos os batizados são salvos. Nem todos nasceram de novo ou tiveram suas vidas transformadas.
O Novo Nascimento é a chave de entrada para o reino de Deus. Apenas um encontro real e pessoal com o Filho de Deus é capaz de transformar a vida de alguém, de tornar um pobre pecador num herdeiro do reino dos céus. Foi assim com o ladrão da cruz ao lado de Jesus, que creu no Senhor mas não pôde ser batizado, e teve garantida sua entrada no Paraíso (Lc 23:43).
Somos regenerados sim, não pela água do batismo, mas pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo (Tt 3:5).
Numa linha de pensamento diametralmente oposta, estão aqueles que crêem tanto que o batismo não é suficiente para salvar que procuram motivos para não se batizar. Chegam a dizer que não precisam do batismo, já que o Novo Nascimento independe dele. Estes, na verdade, ainda não experimentaram o nascer de novo, pois quem teve a experiência da regeneração através duma genuína conversão anseia em tornar isto público através do batismo.
Concluímos que a doutrina da regeneração batismal só deverá ser aceita se deixarmos de crer que quem opera a regeneração do homem é o Espírito de Deus. Concluímos também que o batismo só deverá ser dispensado quando de fato não houve conversão.



Graça e Paz a todos, por Aquele que nos lavou em Seu sangue e nos selou para a vida eterna, Cristo Jesus.
Marcelo Reis.

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Devolvendo a Autoridade

"O maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve." Lc 22:26b

A Bíblia ensina que para alguém ser grande no Reino dos Céus é necessário se considerar pequeno nesta vida, e quem quiser ser o maior deve servir a todos. O sábio Salomão dizia que "diante da honra vai a humildade" (Pv 18:12b). Lidar com a natureza humana e conciliá-la com a vida cristã é uma tarefa difícil, pois enquanto homens queremos reconhecimento e respeito de todos, mesmo quando devemos isto a Deus, de quem procede toda a autoridade (Rm 13:1).
Queremos que as pessoas vejam a autoridade de Deus que há em nós, e isto é bom, mas nossa natureza nos leva a esperar que as pessoas nos admirem por isto em vez de remeter a honra e a glória Àquele que nos conferiu autoridade.
Nos preocupamos tanto em não desagradar a maioria, que às vezes deixamos de defender verdades bíblicas para que não sejamos vistos com maus olhos. Tudo pelo medo de perder a autoridade, como se a tivéssemos de nós mesmos.
Quem tem autoridade dada por Deus não precisa reivindicá-la, nem precisa ter medo de perdê-la. Quando o Senhor chama alguém para um determinado propósito e lhe confere autoridade, pode até haver oposição, mas o próprio Deus se encarrega de levar a cabo os Seus projetos.
O livro de Números registra uma história que chama nossa atenção ao zelo do Senhor pela autoridade que ele confere. Trata-se da história da rebelião de Coré.
O Senhor escolhera Moisés e Arão como príncipes da congregação. Competia aos descendentes de Arão exercer o sacerdócio no santuário. A administração e o ministério do tabernáculo foram conferidos às outras famílias de levitas que estariam sujeitas à autoridade de Arão e Moisés.
Coré, que também era descendente de Levi, provocou uma revolta para dar fim à autoridade de Arão e de Moisés, mas o Senhor se indignou contra eles e contra os que se juntaram a eles, fazendo que a terra se abrisse e tragasse duzentos e cinquenta homens que se dispuseram a oferecer incenso no lugar da família de Arão. Israel levantou-se contra eles por isto também, acusando-os de haver matado o povo do Senhor.
Por causa da murmuração contra Arão e Moisés, o Senhor enviou uma praga que matou mais quatorze mil e setecentos homens.
Para acabar com a disputa e com a murmuração, o Senhor propôs aos filhos de Israel que cada líder de cada tribo levasse a Moisés uma vara com seu nome escrito para lhe representar e para ser levada à tenda da congregação, diante da arca do Senhor. Ali o Senhor se manifestaria e faria a vara de um deles florescer, confirmando o ministério daquele a quem Ele teria escolhido.
No outro dia, voltaram os filhos de Israel, e Moisés entrou no santuário para buscar as varas. A vara de Arão não havia apenas florescido, mas havia florescido, brotado e dado amêndoas. Cada líder recebeu de volta sua vara, mas a vara de Arão voltou para diante da arca do Senhor, onde continuamente florescia, brotava e dava amêndoas.
Quando a Bíblia nos fala destas varas, ela nos fala de autoridade. Ao fazer a vara de Arão florescer Deus estava legitimando diante de Israel a Sua aprovação sobre a vida e sobre o ministério deste homem, além de confirmar diante de todos que autoridade de Arão vinha de Deus. Não é necessário tentarmos provar aos outros que nossa autoridade vem do Senhor, pois Ele mesmo faz isto por nós.
Quando a vara florescida volta pra diante da arca, Arão está devolvendo ao Senhor a autoridade que lhe foi concedida. Arão está reconhecendo que se sua autoridade não estiver diante do Senhor, suas flores murcharão, seus frutos se acabarão e toda a beleza desaparecerá.
O exemplo de Arão deve ser trazido para nossas vidas. Quantas vezes perdemos a autoridade no ministério ou na família por deixar de colocá-la diante da presença de Deus! Quando entregamos a Deus a autoridade que nos foi dada, estamos a fortalecendo, pois toda a autoridade vem d'Ele.
É necessário ter conciência de que se há em nós alguma autoridade é para que esta seja usada para engrandecimento do nome d'Aquele que tem todo o poder.
Se quisermos subir, teremos que descer. Se quisermos ser grandes, devemos servir a todos. Para sermos ainda maiores, devemos ser os menores, pois importa que o homem diminua para que Cristo seja engrandecido em nós, até que cada um de nós diga: "Não mais eu, mas Cristo vive em mim!"

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vida eterna no céu? Não é bem assim...

Muitos de nós crêem, porque assim foram ensinados, que Jesus virá buscar a Igreja para morar com ele no céu para todo o sempre.
Não se preocupe, não vou negar o arrebatamento da Igreja nem as bodas do Cordeiro, mas eu gostaria de tecer alguns comentários sobre a doutrina da vida eterna no céu. Antes que venham os bombardeios, quero esclarecer que creio no arrebatamento da Igreja e creio também que Jesus vai levar a Igreja para o céu. Mas a questão aqui é: por quanto tempo?
Confesso que não acho fácil abordar um assunto escatológico e delicado como este em poucas palavras, mas farei o possível para esclarecer sem me extender muito.
Existem duas linhas de pensamento escatológico, e acredito que devem ser mencionadas aqui: o amilenismo e o milenismo. O divisor de águas entre as duas linhas escatológicas é a diferença de interpretação acerca do milênio. O milênio a que me refiro aqui é o período de mil anos do reino de Cristo sobre a terra mencionado em Ap 20.
Os amilenistas acreditam que não haverá um tempo literal de mil anos no reino de Cristo, mas que os "mil anos" sejam um período indefinido desde a fundação da igreja primitiva até o arrebatamento da Igreja. Neste caso, o termo "mil anos" toma emprestada a figura semítica de linguagem que conhecemos como hebraísmo para designar um longo e indefinido período de tempo em que Cristo reinará sobre a humanidade, conduzindo-a ao dia do Juízo, onde serão separados os salvos e os ímpios para o fim merecido por ambas as partes. Como a Bíblia é claríssima em relação ao início do milênio somente após a vitória de Cristo sobre o anticristo, fica difícil concordar com o amilenismo.
Os milenistas formam uma escola mais complexa e podem ser classificados como pré-tribulacionistas, meso-tribulacionistas e pós-tribulacionistas. As três classes de milenistas crêem que haverá um período de mil anos literais onde os salvos reinarão com Cristo sobre a terra, enquanto Satanás estará amarrado e o anticristo derrotado. As diferenças entre as classes milenistas são as seguintes:

Os milenistas pré-tribulacionistas crêem que o Senhor virá arrebatar a Igreja antes da do período da Tribulação, evitando que a Igreja se submeta ao domínio do anticristo e livrando os salvos da ira de Deus (Mt 3:7; Lc 3:7; Jo 3:36; 1 Ts 1:10; 2 Ts 2:7). Esta classe milenista é composta por uma notável maioria entre os evangélicos.
Os milenistas meso-tribulacionistas dizem que a Igreja viverá a primeira fase da Tribulação e será experimentada durante a falsa paz que se extenderá durante três anos e meio, metade do governo do anticristo, mas quando o iníquo se revelar e vier maltratar os salvos, acontecerá o arrebatamento antes que se inicie a Grande Tribulação (segunda fase do governo do anticristo, composta por mais três anos e meio).
Os pós-tribulacionistas afirmam que a Igreja passará pela Tribulação e pela Grande Tribulação, será perseguida e sofrerá até a derrota do anticristo, quando então Cristo virá arrebatá-la.

Embora eu tenha minha convicção pessoal entre uma destas três classes milenistas, não pretendo aqui dar razão a nenhuma das três, pois isto exigiria um artigo específico para apontar qual destas honraria melhor o ensino bíblico.
O que quero realmente dizer aqui é que ao adotarmos a doutrina do milênio literal estamos automaticamente aceitando que o reino de Cristo será terreno durante mil anos. Caso os pré-tribulacionistas estejam com a razão, haverá júbilo para a Igreja no céu durante sete anos. Se os meso-tribulacionistas estiverem certos, três anos e meio. Se os pós-tribulacionistas estiverem certos, não haverá ida ao céu para Igreja.
A única conclusão que podemos chegar é que os salvos reinarão com Cristo no milênio (Ap 20:6) e terão vida eterna se subsistirem ao Juízo Final (que só acontecerá no final do milênio, Ap 20:7-11) na Nova Jerusalém que descerá de Deus (Ap 21:1). E a vida eterna nos céus? Se a Bíblia ensina que a Igreja será arrebatada a encontrar o Senhor nos ares, e que depois da Grande Tribulação será instituído o reino milenar de Cristo e dos salvos sobre a terra, como poderemos crer numa vida eterna nos céus?

Deixe registrada aqui sua preferência por uma das classes milenistas ou pelo amilenismo. Comente respeitosamente e exponha seus argumentos usando referências bíblicas. Sinta-se à vontade.

Paz a todos, por Cristo Jesus que nos arrebatará para Si, e onde Ele estiver estaremos nós também!
Marcelo Reis.

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Primeiro Aniversário do Blog Verbo Eterno

No mês de setembro, o Blog Verbo Eterno está completando seu primeiro aniversário. Graças a Deus que tem me alegrado em alcançar as vidas que foram edificadas neste espaço, e graças a vocês leitores e comentaristas que têm me dado força neste trabalho, me estimulando a continuar escrevendo.
Não foram poucas as tempestades que enfrentei na vida pessoal por estar levando o Evangelho através deste humilde espaço, mas cada mensagem de agradecimento, cada e-mail, cada coração alcançado, juntos me fizeram ver os desafios que se levantaram como se fossem nada mais que os meios pelos quais o Senhor me fez crescer em graça trabalhando ao lado de vocês.
Pude também, em cada artigo, entregar a Deus o meu louvor e a minha adoração, pois empenhei todas as minhas forças no propósito de entregar a vocês artigos pautados na Palavra de Deus com coerência e equilíbrio para a glória do nome dele.

A todos os amigos do Blog Verbo Eterno o meu muito obrigado! Que Deus continue tocando suas vidas com misericórdias sem fim, e fazendo deste blog uma bênção para cada um.
Para a glória de Deus,
Marcelo Reis.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Línguas Estranhas - Evidência Primaz do Batismo no Espírito Santo?

Cem anos de pentecostalismo no Brasil, e ainda percebemos uma imaturidade generalizada em relação aos dons espirituais na igreja, principalmente no que diz respeito ao falar noutras línguas.
São maioria entre os evangélicos pentecostais os que acreditam ser esta a característica imprescindível para alguém dizer que é batizado com o Espírito Santo. Embora a Bíblia diga que o dom de línguas não é soberano entre os demais (1 Cor 14:1-40), a glossolalia ganhou primazia em absolutamente todas as igrejas pentecostais como a evidência do batismo no Espírito Santo.
Há crentes que busquem o dom de línguas durante toda a vida, muitas vezes inutilmente, enquanto a igreja carece dos demais dons espirituais como cura, profecia, ciência (meu Deus, como falta ciência!) e até mesmo a interpretação das línguas, entre outros dons. Alguns chegam ao absurdo de confundir o dom de línguas com o selo da Promessa do Espírito Santo que é dado a todo aquele que ouviu e creu no Evangelho (Ef 1:13; 4:30). Esta confusão acaba levando muitas pessoas a acreditar que se não falarem línguas estranhas não estarão de acordo com a Palavra, e para piorar, outras crêem que os não selados (entenda-se "que não falam línguas") não serão salvos.
A base insólida deste tipo de crença é alicerçada no perigoso hábito de entender uma narrativa como se fosse um ensinamento. O livro dos Atos conta algumas histórias do batismo no Espírito Santo seguido da glossolalia (At 2:4; 19:6), mas isto não é uma receita para se reconhecer crentes batizados no Espírito Santo, é uma narrativa de crentes cheios do Espírito Santo E QUE falaram línguas estranhas.
A maioria dos pentecostais, no afã de carregar "a marca" do pentecostalismo, se esquecem de observar a raiz e a funcionalidade (que é edificar somente quem fala - 1 Cor 14:4) do dom de línguas, além de compará-lo com a imensa variedade de dons disponíveis no "celeiro" do Bom Pastor.
Em 1 Cor 12:1-31 o apóstolo Paulo trata deste assunto pedindo aos coríntios que não sejam ignorantes (v.1) e entendam que como membros que são do corpo de Cristo, cada um tem sua função, cada um exercerá um dom diferente do outro segundo a operação do Espírito de Deus. No v.30 ele faz a pergunta-chave do assunto: "Todos curam? Todos falam diversas línguas? Todos interpretam?", respondida nos vv. 8-11: "Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um COMO QUER."
No capítulo 14 fica claríssima a intenção de Paulo em enfatizar que o dom de línguas não é o mais importante dos dons espirituais. Ele quer que os crentes de Corinto busquem este dom, mas que priorizem o dom da profecia, embora não esteja também promovendo a profecia como selo do batismo no Espírito.
Existem prioridades na vida cristã para que depois se manifestem os dons espirituais, e as encontramos na galeria dos frutos do Espírito em Gl 5:22: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
O Espírito de Deus não traz confusão, pois Deus é Deus de ordem. É, no mínimo, incoerente uma pessoa sem amor, alegria, paz e mansidão ser cheia do Espírito Santo e dos seus dons. Infelizmente não é a realidade que vemos imperar no meio pentecostal.
Estou cansado de ver pais de família que educam os filhos aos berros, são o terror da vida da esposa, são uma verdadeira ameaça à paz, mas quando vão à igreja se transformam em santos faladores de língua estranha (isso sim é um mistério!). Não tenho medo de dizer que este espírito aí não é o Espírito Santo!
Ademais, não sou capaz de crer com base no que leio nas Escrituras que os outros dons espirituais não constituam o batismo no Espírito Santo. Tampouco creio que nós, que somos batizados no Espírito, sejamos mais nobres que os que ainda não o são, pois a quem mais é dado, mais é cobrado.
Passou da hora de crescermos no conhecimento e passarmos a refletir se o Espírito Santo que produz domínio próprio (Gl 5:22, sig. tb. temperança) é o mesmo que causa o desequilibrado reteté.
Sou pentecostal, falo línguas estranhas quando o Espírito concede que eu fale, mas minha maior alegria é estar selado para o dia da redenção, pois cri na pregação do Evangelho, e meu nome está escrito no livro da vida.

Em Cristo Jesus,
Marcelo Reis.


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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Discrepância da Maldição Hereditária


"Eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam." (Ex 20:5)
 X
"A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele." (Ez 18:20)

Sendo a Bíblia insipirada por Deus, é impossível que estes dois versículos sejam uma contradição. Ex 20:5 tem servido de versículo-chave para o ensino da "maldição hereditária", mas se não há contradições na Bíblia devemos analisar este texto à sua própria luz e procurar entender qual é sua realidade à luz de toda a Bíblia.
O contexto deste versículo é iniciado no v.3 e termina no v.6. Para compreender melhor o que Deus está dizendo é necessário ler o versículo dentro do contexto:

v.3. Não terás outros deuses diante de mim.
v.4. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
v.5. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
v.6. E faço misericórdia a até mil gerações dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.

No v.3 Deus está proclamando o primeiro mandamento: Não terás outros deuses diante de mim.
Os vv. 4-5 compõem a proclamação do segundo mandamento:  Não farás para ti imagem de escultura (...) Não te encurvarás a elas nem as servirás. Aqui, o Senhor exige exclusividade de culto, diz que é zeloso (lit. ciumento), e que visita a maldade (lit. pecados) dos pais sobre os filhos até quatro gerações DAQUELES QUE O ODEIAM. Note que a visitação da maldade se estende a todos o que odeiam ao Senhor, enquanto os que amam a Deus serão tratados com misericórdia até sua milésima geração.
Em suma, Deus está advertindo o seu povo que Ele não aceitará a prática da idolatria, e se alguém escolher outros deuses para servir, estará também escolhendo maldições para sua vida. As possibilidades de um homem pagão transmitir sua crença a seus filhos era iminente, pois a tradição familiar tinha mais influência naqueles dias do que qualquer pregação e, desta forma, os descendentes de tal homem praticariam as mesmas obras e se submeteriam às mesmas maldições. O exemplo que temos em nossos dias é a criança que nasce de pais portadores de HIV, sífilis ou gonorréia: os pais escolheram o caminho indevido, provavelmente seu filho carregará a consequencia dos pecados dos pais, mas não o pecado em si. Assim acontecia com os ímpios do AT, os filhos sofriam as consequencias inevitáveis dos pecados dos pais.
Aconteceria, porém, que se um dos descendentes do tal homem pagão se submetesse à vontade de Deus, não estaria mais sob maldição, pois conforme o texto de Ez 18:20 (exposto no topo deste artigo), o filho não pagará pelos pecados do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho, pois a alma que pecar, esta morrerá.
Infelizmente não é isto o que muitas igrejas estão ensinando, principalmente aquelas que promovem exageradamente cultos de libertação, piorando por parte daquelas que partem para a quebra de maldição.
Segundo os amantes deste ensino, pecados cometidos pelos ancestrais de uma pessoa podem influenciar em sua vida espiritual, familiar, amorosa e principalmente na vida financeira. Com base em Mt 12:29 acreditam que devem amarrar supostos demônios que causam seus males, para então os repreender e tomar posse daquilo que Satanás estaria lhes restringindo. Ainda que pudéssemos tomar esta mera comparação que Jesus fez entre saquear uma casa e expulsar demônios para justificar a quebra de maldições, não poderíamos deixar de considerar que o agente da maldição em Ex 20:5 é Deus, e não Satanás. Quem poderia amarrá-lo?
O que eu acho interessante nesta suposta "amarração de Satanás" é que eles vivem amarrando o demônio e ele continua agindo!
O que quebra a maldição na vida do homem é o sangue de Jesus, que o purifica de todo o pecado. Jesus não só amarra, mas expulsa os demônios da vida daquele que o receber como Senhor e Salvador.
Não se pode negar que a atuação de demônios na vida dos crentes fiéis também é uma realidade. O ministério do inimigo é destruir vidas, separar famílias e conduzir as pessoas às mais variadas formas de destruição. Lutamos sim, contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6:12), mas isto não significa que Satanás está atuando contra nossas vidas por causa do pecado de um antepassado.
Além disso, nem todo infortúnio pode ser considerado derrota. Os pregadores da maldição hereditária consideram que as enfermidades, as privações, as dificuldades financeiras e tantas outras coisas sejam o resultado de ações demoníacas, fosse assim, teríamos de conjecturar que justo e reto Jó era um homem possesso pelos espíritos malignos.
Mas se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Cor 5:17), e agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1), que vivem agora uma vida segundo a vontade de Deus, e sabem que nem a tribulação, nem a angústia ou a perseguição, nudez, perigo ou espada lhes poderão separar do amor de Cristo, pois em todas estas coisas (que não são nenhuma prosperidade) são mais que vencedores por aquele que os amou (Rm 8:35-37)!
O Senhor quer sim que vivamos uma vida plena e abençoada, mas por vezes ele nos leva ao deserto para nos provar e conhecer o que há em nossos corações (Dt 8:2), para que sejamos aprovados e honrados para a glória do Seu louvor.