segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O que acontece quando o cristão passa pelo vale da depressão?

Falar dos próprios medos nunca foi o hobby predileto da maioria dos seres humanos. Talvez os deveres do indivíduo (como integrante social, pai ou mãe, esposo ou esposa, líder religioso ou pessoa influente) produzam em sua mente a falsa responsabilidade de se comportar como super-herói diante das pessoas.
É provável que você conviva com alguém que pareça ser uma pessoa plenamente realizada, forte e destemida, a ponto de se tornar um modelo de vida para a maioria das pessoas que convivam com ele. Pode ser ele o seu chefe, um parente, amigo ou até mesmo o seu pastor. Muitas vezes o seu jeito sóbrio de agir e tomar decisões acertadas é capaz de esconder da vista de todos o tamanho da tristeza ou frustração que esta pessoa carrega  no peito.
Pode ser também que você conheça uma pessoa simples, sem muitos atributos, que não tenha tantas responsabilidades assim, e que aparentemente viva a tranquilidade paradisíaca que você sempre sonhou. Você pode não saber que ela vive sozinha nos seus momentos de maior dificuldade, nem que seu maior sonho seria ter algo importante para fazer e de alguma forma ser notada por algumas pessoas. A aparente tranquilidade dela pode ser na verdade o pior de todos os tédios, o mais aterrorizante de todos os marasmos e, com isto, se sentir apenas mais uma inconveniência do universo.
Isto é uma realidade que assombra pessoas de todas as idades, credos e classes sociais. Fatores diversos e condições mil lançam pessoas depressivas no calabouço da incompreensão. Fatores e condições estes criados pelas lendas sociais, pela exagerada espiritualização das coisas e principalmente pelo despreparo dos amigos e familiares da pessoa depressiva para lidar com a situação.
Mas o que acontece quando é o cristão quem passa pelo vale da depressão? Como conciliar sua fé às pregações que diabolizam o quadro depressivo quando este é uma doença patológica?
A ausência de respostas para essas perguntas já levou, infelizmente, muitos cristãos sinceros ao suicídio. Vergonhosamente ainda somos uma geração que aponta a depressão como um mal que atinge apenas pessoas de pouca fé ou que não vivam uma experiência plena com Deus.
É urgentemente necessário entendermos que depressão não é um mal espiritual (embora haja exceções), mas uma doença delicada que precisa de tratamento.
Nada pode ser tão prejudicial a alguém que sofre de depressão quanto a falta de compreensão e preparo por parte das pessoas do seu convívio. Contar com o apoio da família, bem como o devido amparo emocional, amizades saudáveis e privacidade suficiente para seus desabafos é tudo o que alguém depressivo precisa.
Frases de efeito como "não aceite" ou "repreenda isto" não são de nenhuma serventia. O irônico tapinha nas costas acompanhado do famoso jargão "isso não é doença de crente" pioram ainda mais as coisas.
O que viria a ser doença de crente, o câncer? São tantas as enfermidades que assolam o povo de Deus, e por que haveria de ser a depressão a única doença plantada pelo diabo no meio cristão?
A maior parte dos depressivos que já pensou em suicídio ou tentou cometê-lo atribui uma parte significativa de seus motivos pra isto à incompreensão por parte das pessoas que lhe são queridas. A exposição que ridiculariza, a sensação de autoestupidez e coisas deste tipo levam a pessoa que já perdeu o prazer pela vida a perder todas as esperanças de recuperá-lo.
Se você conhece alguém que sofre de depressão, ouça-o. Dê atenção, se esforce a compreendê-lo, ore se for necessário, mas JAMAIS culpe-o mais do que ele já se sente culpado. Não procure esfregar na cara as fraquezas que já lhe são tão evidentes. Coloque-se à disposição, transmita confiança. Na dúvida não diga nada, será melhor do que dizer a coisa errada. Seu amigo/parente depressivo não precisa apenas de conselhos, precisa de amor. É de ser valorizado que ele tem necessidade.
Se você é depressivo, meu amigo e irmão, entenda uma coisa: assim como não há bem que sempre dure, também não  há mal que nunca se acabe. Você não está assim porque é menos crente que os demais, nem é o primeiro crente verdadeiramente crente que sofre de depressão.
Se os infortúnios da depressão fazem você duvidar do seu relacionamento com Deus, lembre-se de Elias. Um dos maiores profetas do Senhor, que sozinho matou quatrocentos e cinquenta profetas de Baal foi esconder-se numa caverna com medo de uma mulher que jurou matá-lo. Talvez você já tenha vencido tantos problemas maiores do que este que está enfrentando agora, mas você está frágil, está debilitado... A qualquer momento aquela Voz que chamou Elias na caverna pode lhe chamar também e lhe dizer as mesmas palavras: "Que fazes nesta caverna?". Lembre-se do reto Jó que chegou a amaldiçoar o dia do seu nascimento, mas que no dia mais miserável do seu sofrimento declarou: "Eu sei que o meu Redentor vive!".
A oração e a leitura bíblica são os pilares da vida de todo cristão, e são também os primeiros prejuízos do crente depressivo. É difícil dedicar-se à leitura e conseguir orar bem em determinado estágio do quadro depressivo, portanto sua aparente frieza espiritual não se trata de apostasia, mas de um sintoma da depressão. Não afaste-se do Senhor por isso, nem desista de seu ministério caso tenha. Tudo isto irá passar como resultado de sua força de vontade.
Lute e resgate tudo o que era importante pra você. Retome suas atividades e procure cumprir seus compromissos com coragem e responsabilidade. Sua vida é um projeto de Deus e nada que acontece com você está longe do alcance das vistas dele. Pode acreditar que ele está ao seu redor confiando em você, aguardando para a qualquer momento ver você sair vitorioso e, assim como Elias saiu da caverna, como Jó recuperou sua dignidade, e como Asafe voltou a se firmar na esperança da justiça divina, você também saia desta caverna escura, recupere toda sua dignidade e autoestima e volte a desfrutar da certeza de que tudo está nas mãos do Grande Deus!
Deus é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos (Efésios 3:20).
Levante a cabeça!
Em Cristo Jesus,
Um crente que também já sofreu a depressão,
Marcelo Reis.