segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Línguas Estranhas - Evidência Primaz do Batismo no Espírito Santo?

Cem anos de pentecostalismo no Brasil, e ainda percebemos uma imaturidade generalizada em relação aos dons espirituais na igreja, principalmente no que diz respeito ao falar noutras línguas.
São maioria entre os evangélicos pentecostais os que acreditam ser esta a característica imprescindível para alguém dizer que é batizado com o Espírito Santo. Embora a Bíblia diga que o dom de línguas não é soberano entre os demais (1 Cor 14:1-40), a glossolalia ganhou primazia em absolutamente todas as igrejas pentecostais como a evidência do batismo no Espírito Santo.
Há crentes que busquem o dom de línguas durante toda a vida, muitas vezes inutilmente, enquanto a igreja carece dos demais dons espirituais como cura, profecia, ciência (meu Deus, como falta ciência!) e até mesmo a interpretação das línguas, entre outros dons. Alguns chegam ao absurdo de confundir o dom de línguas com o selo da Promessa do Espírito Santo que é dado a todo aquele que ouviu e creu no Evangelho (Ef 1:13; 4:30). Esta confusão acaba levando muitas pessoas a acreditar que se não falarem línguas estranhas não estarão de acordo com a Palavra, e para piorar, outras crêem que os não selados (entenda-se "que não falam línguas") não serão salvos.
A base insólida deste tipo de crença é alicerçada no perigoso hábito de entender uma narrativa como se fosse um ensinamento. O livro dos Atos conta algumas histórias do batismo no Espírito Santo seguido da glossolalia (At 2:4; 19:6), mas isto não é uma receita para se reconhecer crentes batizados no Espírito Santo, é uma narrativa de crentes cheios do Espírito Santo E QUE falaram línguas estranhas.
A maioria dos pentecostais, no afã de carregar "a marca" do pentecostalismo, se esquecem de observar a raiz e a funcionalidade (que é edificar somente quem fala - 1 Cor 14:4) do dom de línguas, além de compará-lo com a imensa variedade de dons disponíveis no "celeiro" do Bom Pastor.
Em 1 Cor 12:1-31 o apóstolo Paulo trata deste assunto pedindo aos coríntios que não sejam ignorantes (v.1) e entendam que como membros que são do corpo de Cristo, cada um tem sua função, cada um exercerá um dom diferente do outro segundo a operação do Espírito de Deus. No v.30 ele faz a pergunta-chave do assunto: "Todos curam? Todos falam diversas línguas? Todos interpretam?", respondida nos vv. 8-11: "Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um COMO QUER."
No capítulo 14 fica claríssima a intenção de Paulo em enfatizar que o dom de línguas não é o mais importante dos dons espirituais. Ele quer que os crentes de Corinto busquem este dom, mas que priorizem o dom da profecia, embora não esteja também promovendo a profecia como selo do batismo no Espírito.
Existem prioridades na vida cristã para que depois se manifestem os dons espirituais, e as encontramos na galeria dos frutos do Espírito em Gl 5:22: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
O Espírito de Deus não traz confusão, pois Deus é Deus de ordem. É, no mínimo, incoerente uma pessoa sem amor, alegria, paz e mansidão ser cheia do Espírito Santo e dos seus dons. Infelizmente não é a realidade que vemos imperar no meio pentecostal.
Estou cansado de ver pais de família que educam os filhos aos berros, são o terror da vida da esposa, são uma verdadeira ameaça à paz, mas quando vão à igreja se transformam em santos faladores de língua estranha (isso sim é um mistério!). Não tenho medo de dizer que este espírito aí não é o Espírito Santo!
Ademais, não sou capaz de crer com base no que leio nas Escrituras que os outros dons espirituais não constituam o batismo no Espírito Santo. Tampouco creio que nós, que somos batizados no Espírito, sejamos mais nobres que os que ainda não o são, pois a quem mais é dado, mais é cobrado.
Passou da hora de crescermos no conhecimento e passarmos a refletir se o Espírito Santo que produz domínio próprio (Gl 5:22, sig. tb. temperança) é o mesmo que causa o desequilibrado reteté.
Sou pentecostal, falo línguas estranhas quando o Espírito concede que eu fale, mas minha maior alegria é estar selado para o dia da redenção, pois cri na pregação do Evangelho, e meu nome está escrito no livro da vida.

Em Cristo Jesus,
Marcelo Reis.


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9 comentários:

  1. A Paz do Senhor Jesus, meu irmão e amigo Marcelo!
    Como sempre, equilíbrio e reverência à Palavra, nos seus artigos.
    Vou twittar este aqui!
    Abraços!


    Simone Faith
    adoracaoreverente.com

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  2. E vc como sempre me enchendo de vontade de escrever né, hehehe!!!
    Se depender dos seus comentários eu vou escrever até Jesus vir me buscar, amada!

    Que Deus lhe conceda os desejos do seu coração.
    Paz do Senhor.

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  3. A paz do Senhor,bom seria se a igreja deixasse de lado a "teologia humana" e desse lugar ao Espirito Santo aprendendo com Paulo em 1Co 13 pois cade o principal,O AMOR.Enquanto as igrejas estao se vangloriando por ter "muitos" que falam em outras linguas, vidas se perdem sem conhecer a Verdade.Pois vemos em At2 a verdadeira essencia do que chamamos de "pentecostalismo",Pedro nao se preocupou em "falar em linguas " e sim em "salvar vidas".

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  4. Que bom ver vcs participando por aqui!!!
    Irmão Alexandre e Irmã Kênia, a Paz do Senhor. Não sabem como fico feliz em vê-los neste espaço.
    Que Deus os abençoe. Continuem participando.

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  5. Profeta a paz do Senhor!
    A contextualização é muito interessante, mas é necessário fazermos uma reflexão e também aprofundarmos nesse assunto antes de ajuizarmos qualquer opinião, baseando-me em Mc16:15-18, não tenho dúvidas que estes sinais devem acompanhar a vida cristã pois quem crê recebe é a palavra que assim diz digo a todos os twitteros que tudo tem que ser colocado na balança os exageros são reprováveis mas não se pode perder a essência. Vale lembrar que o caso da igreja de Corinto em relação às outras igrejas é um caso ímpar era uma igreja rica em dons, mas rica também em problemas e o apostolo orientado pelo Espirito Santo foi repreensível de forma contundente e não poderia ser diferente. Mas hoje nós temos o evangelho e a própria carta escrita para não cometermos os mesmos erros. A igreja que mantem-se nestes erros é uma igreja que não tem ensino sistemático (Rm 12.6-7)que não é o nosso caso. Vale lembrar que o fato considerado como uma narrativa é também conteúdo da bíblia sagrada e tem objetivos a serem alcançados pelo criador se não o fossem não teria sido escrito e registrado nas sagradas escrituras, concordo plenamente que os exageros são um insulto ao que se refere, mas com certeza o batismo no Espírito Santo é a plenitude da vida cristã, o apse do amor de Deus derramado no ser chamado humano, falando de evidência parabenizo vç profeta pela sua preocupação com as heresias ou distorções que estão em nosso meio isto é legitimamente uma preocupação de um nobre homem de Deus que com certeza que o nosso mestre amado está te preparando para algo grande.
    Com amor em Cristo!
    Pb. Luciano

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  6. Paz do Senhor, irmão Luciano, quanta honra ter sua participação neste espaço! Que o Senhor continue o abençoando.
    Concordo muitíssimo com suas colocações, e creio também que o batismo no Espírito Santo seja algo que todos os crentes sem exceção devem buscar. O que questiono neste artigo é a concepção de que quem não fala noutras línguas não seja batizado no Espírito Santo, e questiono também a crença na superioridade das línguas em relação aos outros dons.
    Sei que há muitos cristãos cheios do Espírito Santo que nunca falaram nem falarão línguas estranhas, mas levam consigo uma ampla bagagem de dons do Espírito.

    Paz e Graça, querido. Continue participando aqui.

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  7. quando ele vier em nuvens de gloria vc vai dar conta de toda esta ERESIA q vc escreve !!!

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  8. concordo com o teu texto pois fui batizada e desde então minha vida transformada e nunca falei em línguas estranhas, sou adventista mas fui batizada pelo Espirito Santo numa convenção das igrejas pentecostais, tenho visto muitos pastores e pessoas hipócritas falando em línguas estranhas e sempre repetindo as mesmas palavras traindo suas esposas e esposos, se prostituindo na internet, e tantas mais coisas más..ou seja vivem no mundo e para o mundo mas na frente da igreja falam em línguas ..fé fingida...mas tenho certeza de que fui batizada e fui liberta por Jesus Cristo pois desde este dia deixei de ser eu para seguir Jesus meu eterno Rei e Salvador !!

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  9. Que texto belíssimo, e com certeza, inspirado para instruir a Igreja, não apenas para fazer número na rede.

    É uma discussão de anos, que causa divisão inclusive dentro do seio da Igreja do Senhor Jesus, porque os que falam em língua pensam que são mais santos, mais separados, mais selados do que os que não falam.

    Por anos, eu me senti à margem das promessas do Espírito por causa de instrução mal dada em cultos de oração. Mas graças a Deus, porque tenho aprendido e amadurecido na carreira que me está proposta. Que benção os irmãos que falam em línguas, os que a interpretam, porém, hoje, busco ser cheia, ou batizada, ou receber porção dobrada em algo que seja útil, principalmente, aos irmãos.

    Só contar um caso que seria engraçado, se não fosse trágico: uma colega de trabalho disse que estava "aprendendo a falar em línguas estranhas" nos círculos de oração da chamada igreja católica.

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