sábado, 30 de julho de 2011

Idolatria: Diálogo com o Frei

Outro dia, entrei num assunto com um amigo, colega de trabalho e católico devoto. Estávamos falando sobre idolatria, e embora a Igreja Católica seja o grande símbolo da idolatria pseudocristã, nenhum católico admite ser idólatra realmente. Ele, como todos os católicos, não admitiu idolatrar os santos, dizendo que a igreja os ensina apenas a venerá-los.
Depois de muitos argumentos, ele decidiu convidar o frei de sua paróquia para me fazer uma visita e esclarecer as minhas dúvidas. Faço questão de transcrever aqui o diálogo entre mim e o Frei Giovanni, da Paróquia Nossa (?!) Senhora de Fátima de Araguari, MG. Depois de feitas nossas apresentações, o diálogo transcorreu assim:

Frei Giovanni: Qual é a sua dúvida a respeito da idolatria?
Eu: Frei, eu ainda não consegui desassociar a idolatria praticada no paganismo e o culto às imagens praticado pela Igreja Católica. O senhor pode me esclarecer?

Frei Giovanni: Em primeiro lugar não existe nenhuma associação entre a idolatria e a veneração das imagens. Não prestamos culto às imagens, apenas as veneramos. Na idolatria, o ídolo é adorado como se fosse um deus, os santos são apenas respeitados como homens de Deus que nos deram um grande exemplo a ser seguido, e em hipótese alguma serão adorados. Só Deus é digno de adoração.
Eu: Na questão do exemplo a ser seguido eu concordo com o senhor em muitos casos. O caso de Pedro, por exemplo, que não permitiu que Cornélio se curvasse diante dele, é um grande exemplo a ser seguido. Mas na questão da prática da idolatria, o senhor acredita que atribuir a qualquer outro ser um atributo que só a Deus pertence, não seria também incorrer em idolatria?

Frei Giovanni: Com certeza!
Eu: Por exemplo, só Deus é Onipresente e Onisciente. É correto acreditar que um santo, mesmo que este seja Maria, possa ouvir orações de devotos no mundo inteiro ao mesmo tempo?

Frei Giovanni: Já estou entendendo onde você quer chegar...
Eu: Não seria idolatria também dar a outro ser a honra e a glória que só Deus merece?  Acreditar que os santos ouvem a oração das multidões que vão até os santuários não é o mesmo que acreditar que eles sejam onipresentes e oniscientes?

Frei Giovanni: Mas nós não acreditamos que os santos sejam onipresentes nem oniscientes!
Eu: Então não crêem que eles ouçam a oração de tantos devotos em tantos lugares ao mesmo tempo?

(silêncio abismal...)

Frei Giovanni: Filho, veja bem: o ministério dos santos junto a Deus é um ministério de intercessão. Eles alcançaram confiança diante de Deus por causa de sua vida piedosa e santificada, por isso nos chegamos a eles para que intercedam por nós junto a Deus.
Eu: Eu aprendi na Bíblia (em I Tm 2:5) que só há um mediador entre Deus e os homens: Jesus.

Frei Giovanni: Mas a intercessão que eles fazem não é como a de Jesus, os santos se põem diante de Deus como nossos advogados, e não nos conduzindo à salvação em Deus, como Jesus faz.
Eu: O que o senhor acha que João quis dizer com "Filhinhos, não pequeis, mas se alguém pecar temos um Advogado diante do Pai: Jesus Cristo, o Justo."? (I Jo 2:1)

Frei Giovanni: A Bíblia não é a única fonte de autoridade para as práticas da igreja. A tradição apostólica nos ensina que a igreja reverencia os santos desde muitos séculos.
Eu: Acho que já podemos concluir nosso assunto, frei. O senhor está concordando comigo que a Igreja Católica pratica a veneração aos santos sem o consentimento bíblico? E não se importam em ensinar os fiéis a fazerem orações e promessas a santos que na verdade não podem ouvir? Vocês reunem milhares de romeiros em tantos santuários sem lhes dizer que a própria igreja não crê que os santos possam ouvir?

Frei Giovanni: Eu não estou me sentindo muito bem para estender o assunto por mais tempo. Vou marcar um dia para nos falarmos mais. Preciso ir.
Eu: Ficarei aguardando.

Isso faz quase dois anos...
Até ontem ainda não voltamos a nos falar. O frei não respondeu às perguntas que fiz. Meu amigo católico não abandonou o catolicismo, mas nunca mais se curvou diante de uma imagem de escultura.
Glórias a Deus por isso!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ele ainda acalma a tempestade

É madrugada. Um barco tripulado por doze homens havia partido no fim da tarde e está agora no meio da escuridão, açoitado já há horas pelas ondas fortes levantadas pelo vento.
No meio da tempestade eles vêem uma figura espectra distorcida pelas águas vindo em sua direção caminhando por cima das águas. "É um fantasma!", gritaram alguns assustados, mas era Ele! O único capaz de acalmar o vento e as águas do mar!
Os doze ainda cheios de medo, gritavam apavorados até que um deles disse: "É o Senhor!" e prosseguiu: "Se és tu, Senhor, faz-me ir ao teu encontro caminhando sobre as águas!". Este entre os doze era Pedro, o mais desequilibrado dos discípulos de Jesus. Existia, ao menos para outros, uma grande possibilidade de aquele que vinha sobre as águas não ser Jesus. Poderia ser um fantasma, Zeus, Netuno, ou qualquer outro personagem da mitologia, ou talvez até um demônio. Mas para Pedro não, seu coração ardia sentindo a presença de seu Senhor que vinha quebrando as ondas e enfrentando a força da tempestade para lhe socorrer.
Jesus vê nos olhos de Pedro a ansiedade e o desespero, e convida-o a caminhar por cima das águas...
Esta história se parece com a sua. Quantas vezes você saiu para algum lugar na mesma condição destes discípulos? Quantas vezes as ondas se levantaram e o vento lhe fez pensar que não houvesse mais saída para aquela situação? Talvez o Senhor já tenha vindo encontrá-lo por cima das águas e pelo meio do vento que personificam suas tribulações, mas o medo e o desespero lhe tenha feito pensar que o Senhor fosse apenas mais um fantasma.
No meio do caos e da tempestade a aparência de Jesus pode parecer distorcida, e sua única saída pode parecer uma cilada. Você pode escolher que tipo de pessoa quer ser: um dos onze que ficaram no barco morrendo de medo, ou andar por cima das águas com Jesus.
Sei que não é tão fácil superar as tribulações. Muito mais difícil foi andar sobre as águas. As histórias nem sempre são iguais. Ora Deus abre o mar, ora faz calmaria em meio ao temporal, mas o socorro de Deus alcança a todos quantos invocam o seu nome.
Por isso, creia! Ele ainda acalma tempestades.

Marcelo Reis.

De onde veio a mulher de Caim?

"(...)E Caim foi viver na terra de Node, (...) e conheceu a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque." (Gn 4:16, 17 - ACF)

A história de Caim, filho de Adão e Eva, é uma das histórias mais conhecidas da Bíblia Sagrada. Até mesmo quem não tem o hábito de ler as Escrituras sabe contar de cór o episódio do primeiro homicídio. Como é narrado no livro de Gênesis, Adão e Eva tiveram dois filhos, Abel - que era pastor de ovelhas -  e Caim - que era agricultor. Certo dia, Caim apresentou ao Senhor uma oferta dos frutos de sua lavoura, mas o Senhor não aceitou a oferta de Caim. Vindo Abel, seu irmão mais novo, a oferecer também uma oferta ao Senhor, apresentou a melhor parte do seu rebanho e agradou a Deus com seu propósito. Ao ver que Deus aceitara a oferta de Abel mas recusara a sua, Caim irou-se contra Abel e matou-o no campo. A sentença de Deus sobre o pecado de Caim foi a expulsão da terra onde vivia a sua família.
É neste ponto da história que surge a pergunta que enculca a muitos irmãos. Se Eva havia dado à luz apenas Caim e Abel, e não existia até então outras famílias mencionadas na Bíblia, de onde veio a mulher de Caim?
O texto da maioria das versões de Almeida dá a entender que, depois de expulso da terra de seus pais, Caim foi para a terra de Node e lá conheceu literalmente sua mulher. Para entender melhor a passagem, é necessário considerarmos alguns pormenores do texto e abrirmos mão de algumas coisas que a Bíblia não diz:

1) A Bíblia não diz que Adão e Eva geraram apenas Abel e Caim. Além de Sete, que o Senhor deu no lugar de Abel, eles geraram filhos e filhas (Gn 5:4).
2) A palavra conhecer neste contexto, no estilo semítico (hebreu) de literatura, significa ter relações sexuais, e não ser apresentado a alguém como na nossa cultura. Isto é facilmente verificado ao consultar versões traduzidas por equivalência dinâmica de palavras (como a NVI, NTLH entre outras) em vez de equivalência formal, como é o caso da maioria das versões de Almeida. A NVI diz o seguinte em Gn 4:17: "Caim teve relações com sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Enoque (...)"
 3) Como o incestou só foi proibido na Lei, dada por Deus a Moisés séculos depois (Dt 27:22), é altamente possível considerar que a mulher de Caim fosse ou sua irmã ou sua sobrinha.

Seja quem for a mulher de Caim, o que não podemos concluir é que ela tenha sido alguém oriunda de uma outra criação, além da criação descrita na Bíblia. Não devemos supor que houvesse um povo criado fora do jardim, à parte da descendência de Adão.

Marcelo Reis.

sábado, 23 de julho de 2011

Como Devo Crer na Trindade?

Uma das atividades mais delicadas da teologia cristã é tentar explicar de forma clara e objetiva o conceito ortodoxo da divindade. Ainda nos primeiros séculos surgiram inúmeras controvérsias que ameaçaram a crença no Deus trino. A primeira grande afronta à doutrina da Trindade foi o que conhecemos hoje como Unicismo, levado à emergência pelo teólogo Sabélio em cerca de 215  a.D.
O Unicismo consiste na crença de que Deus se aprensentou na história de três formas distintas, e não em três pessoas. Sendo assim, acredita-se que Deus Pai encarnou-se no ventre de Maria, sofreu na cruz sendo Pai e o mesmo Pai vive hoje como Espírito Santo na vida dos crentes e da Igreja. O problema desta doutrina está em negar (mesmo inconcientemente) que Deus enviou Seu Filho Unigênito, e que este por sua vez enviou o Espírito Santo Consolador. O problema está também em negar a submissão do ministério humano de Jesus em relação ao Pai e, conseqüentemente negar que Jesus se fez como um de nós, pois teria sofrido como Deus e não como homem, enfraquecendo assim o valor do sacrifício vicário na cruz do Calvário.
Outra grande afronta à doutrina da Trindade foi a controvérisa do bispo Ário, no quarto século, que ficou conhecida como Unitarismo. 
O Unitarismo: Ário pregava que a única essência verdadeira de Deus é o Pai. Ele afirmava que houve um tempo em que Jesus nunca existiu e que seria, portanto, uma criatura de Deus Pai, não sendo merecedor de adoração. Esta doutrina esteve ausente dos holofotes do cenário cristão durante muitos séculos, ganhando maior vigor nos últimos tempos através de Charles Taze Russell, idealizador da organização das Testemunhas de Jeová.
A Doutrina da Trindade é mal compreendida e, por incrível que pareça, mal explicada pela maioria dos cristãos trinitarianos. Existe uma dificuldade muito grande, mesmo por parte dos que crêem neste ensinamento, de compreender como pode um único Deus co-existir em três pessoas distintas. Meu  interesse neste artigo é esclarecer de forma breve e objetiva quais são as principais dificuldades da doutrina da Trindade e como superá-las à luz da Bíblia.


1. Deus é Um. Não podemos negar a unidade de Deus. A doutrina da Trindade consiste na fé em um único Deus eterno e capaz de ser, em sua inteireza, composto por três pessoas co-iguais: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
2. É necessário distiguir Trindade de triteísmo. O Senhor diz claramente que não admite que tenhamos outros deuses diante dele (Ex 20:3). Ao afirmar que cremos que as três pessoas da Trindade são plenamente Deus, devemos ter o cuidado de não dividí-las, ou fazer de cada uma delas um indivíduo. A palavra trindade deriva de trino (que consiste de três) e não devemos confundir trino com triplo, pois o primeiro é um singular composto por três elementos, enquanto o segundo é simplesmente um plural de três singulares. Se atribuirmos diferentes autoridades e dignidades a cada uma das pessoas da trindade, ou fizermos distinção de seus poderes afirmando que um é Todo-Poderoso e os outros dois não, estaremos crendo sim em três deuses diferentes, isto constituiria uma tríade, e não uma trindade.
A impossibilidade de um indivíduo ser ao mesmo tempo três pessoas dificulta muito a compreensão desta doutrina, justamente pelo fato de a palavra indivíduo significar indivisível por dois. Esta impossibilidade, no entanto, não ameaça a consistência da doutrina da Trindade, pois estar em todos os lugares ao mesmo tempo, saber todas as coisas sem nenhuma restrição e produzir vida também são coisas impossíveis e incompreensíveis, mas universalmente aceitas como atributos verdadeiros do Deus verdadeiro, que é capaz de tudo isto e ainda ser um único Deus composto por três pessoas.
3. O Filho Gerado. O Verbo de Deus estava presente na criação como Criador. Ele estava com Deus no princípio e ali o Verbo era Deus (Jo 1:1). A Bíblia diz que todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. As promessas messiânicas afirmavam que nasceria de uma virgem um menino chamado Deus Forte e Pai Eterno (Is 7:14; 9:6). Quando as promessas estavam por se cumprir, o anjo Gabriel visitou Maria virgem, e disse estas palavras: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus." O evangelho de João nos diz que no princípio era o Verbo (não que no princípio era o Filho), e que este Verbo se fez carne e habitou entre nós. Ele já era Deus no princípio e se esvaziou de toda a sua glória, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2:7). Não é correto acreditar que num determinado momento o Verbo não existisse, sendo a partir daí trazido à existência pelo Pai que o gerou. O Filho foi gerado no ventre de Maria para nascer como um de nós, mas antes da encarnação ele já era o Verbo Eterno de Deus, co-existente e co-igual ao Pai. Também não é correto afirmar que o Filho é um Deus menor. Uma interpretação equivocada das palavras de Jesus em João 10:29, 13:16 e 14:28 leva alguns a crerem que Jesus ocupa ainda hoje uma posição submissa ao Pai. Nestes textos Jesus diz: "o Pai é maior do que eu". Mas lendo paralelamente Lc 22:27 percebemos que Jesus está dizendo a seus discípulos que entre eles, Jesus era o menor. A correta exegese destes textos conclui que Jesus ensina a preferirmos em honra uns aos outros, em vez de nossa própria honra, pois ele como homem deu maior honra a seus discípulos, inclusive lhes lavando os pés, e ainda como homem afirmava que o Pai é maior que ele.
4. O Primeiro e o Último. Tanto Deus Pai quanto o Deus Filho são citados na Bíblia como sendo o primeiro e o último. Esta expressão afirma que nunca houve ninguém antes dele e ninguém viverá num tempo posterior ao dele. Isaías 44:6 e 48:12 atribuem a Yahweh (O SENHOR) o título de Primeiro e Último, enquanto Apocalipse 1:7, 1:11, 2:8 e 22:13 chamam ao Filho de Primeiro e Último. Estamos sim, falando de um único Deus, mas de duas pessoas distintas.
5. A Personalidade do Espírito Santo. O Espírito Santo não é apenas a força de Deus agindo, mas o próprio Deus agindo pessoalmente na terceira pessoa da Trindade. Os termos "primeira", "segunda" e "terceira" pessoa não denotam hierarquia ou primazia entre as pessoas da Trindade, mas a ordem na qual Deus se revelou aos homens cronologicamente. A primeira pessoa da Trindade se revelou no Antigo Testamento como Yahweh Tsabaot (Senhor dos Exércitos, ou Jeová dos Exércitos), varão de guerra, Criador e Dominador de toda a terra, um Deus que tinha o povo de  Israel em predileção em detrimento das outras nações. No Novo Testamento revela-se a segunda pessoa da Trindade, quando temos o cumprimento da promessa de Is 9:6 que predisse o nascimento de um menino que seria chamado Deus Forte e Pai da Eternidade. A Palavra de Deus fez-se carne revelando aos homens que Deus reconciliaria consigo mesmo todas as nações da terra através de um sacrifício perfeito e perpétuo. Quando Jesus está prestes a seguir o caminho do Calvário, prometeu que iria para o Pai, mas enviaria o Espírito Santo Consolador, e que este daria testemunho de Cristo e ajudaria os crentes a viver de acordo com os propósitos do Evangelho. O Espírito Santo é Deus agindo de forma pessoal, e não uma força agindo a serviço de Deus. A personalidade do Espírito Santo está evidenciada nos atributos de caráter pessoal que a Bíblia confessa a seu respeito.
O Espírito Santo se entristece (Ef 4:30), ensina (Lc 12:12), revela coisas ocultas (Lc 2:26), testemunha acerca de Cristo e das palavras de Deus (Hb 10:15, I Jo 5:6-8, Rm 8:16, Jo 15:26 etc.), faz o crente se lembrar dos ensinamentos de Jesus (Jo 14:26), contende com o homem e procura convencê-lo de seus erros (Gn 6:3).
6. As relações interpessoais de Deus na Trindade. Na criação, disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1:26). No batismo no rio Jordão, Jesus estava nas águas, o céu se abriu, o Pai falou do alto com os homens na terra, e o Espírito Santo desceu em forma de uma pomba sobre Jesus (Mt 3:17). Estêvão viu os céus abertos e Jesus ao lado do Pai (At 7:55). João viu na sala do trono um Ancião de Dias e um Cordeiro que havia sido morto e reviveu e que tem o Espírito séptuplo que havia sido enviado por toda a terra (Ap 5:6). Além destas citações onde aparecem juntas as pessoas da Trindade distintas, temos os exemplos de Jesus orando ao Pai, dizendo que o Espírito Santo era sobre ele, e que enviaria o Espírito Santo para ser o ajudador da Igreja.


Biblicamente, não é possível crer que Deus haja apenas se manifestado de três formas distintas nem que haja mais de um Deus na divindade, mas é certo e bíblico que o nosso Deus é Um,  eterno e subsistente em três pessoas co-iguais, cuja essência e dignidade não podem ser divididas. Pai, Filho e Espírito Santo são as três pessoas do único Deus Verdadeiro.


Marcelo Reis.


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A Divindade de Jesus
Unicismo

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quando a Vaidade se Torna Pecado?

O sábio Salomão disse que dedicou-se a observar o que as pessoas fazem na vida terrena e concluiu: "Tudo é vaidade!" (Ec 1:2)
Somos um povo criativo no cultivo das lendas, temos uma facilidade incrível em dar sentido a ensinos ou a textos que já tenham o seu próprio sentido. Tanto Salomão quanto os outros escritores bíblicos já tinham algo em mente quando escreveram sobre o tema da vaidade, não é necessário que nós lhes acrescentemos sentido. Nosso dever é buscar compreender o que o autor tinha em mente e qual o sentido aplicado ao contexto desta abordagem.
Uma das lendas que cultivamos é o famoso jargão "se é vaidade é pecado". Muitas vezes não distinguimos vaidade de pecado, embora em alguns casos a vaidade induza ao pecado. A dificuldade na distinção entre vaidade e pecado consiste na força da tradição que afirma que toda vaidade é pecado, e para verificar a certeza dos fatos o melhor a fazer é conhecer o que a palavra "vaidade" significa realmente.
Para fins exegéticos, a palavra em questão deve ser analisada dentro dos padrões bíblicos. "Vaidade", no Antigo Testamento, tem duas correspondentes hebraicas: hebel [que pode ser traduzido como "vazio", "oco", "sem conteúdo" ou até como "vento"] e shaw [que dá a ideia de "vago"]. No Novo Testamento em grego temos "mátaios" como correspondente  de "vaidade". Estes termos são usualmente aplicados quando o foco do escritor é chamar a atenção do leitor contra o abandono da fé genuína em troca das coisas da vida como a idolatria, a devassidão, a luxúria, entre outros pecados.
Nem tudo o que é sem conteúdo ou sem sentido pode ser considerado pecado, desde que não venha a substituir o valor do que é espiritual. O real sentido de "vaidade" nos escritos bíblicos é posto à luz da eternidade. Tudo o que se faz debaixo do sol é vaidade. Trabalhar, comprar, adornar-se, cuidar-se... Tudo é vaidade.
O livro de Eclesiastes trata exaustivamente deste assunto. A Nova Versão Internacional traz uma feliz interpretação das palavras de Salomão: "Que grande inutilidade!, diz o Mestre. Que grande inutilidade! Nada faz sentido! " (Ec 1:2 - NVI).
O conceito bíblico geral de vaidade é, portanto,  o de uma coisa sem utilidade ou conteúdo, algo vazio, fundamentado em nada. A advertência bíblica contra a vaidade é: não permita que sua vida seja fundamentada na vaidade (em coisas sem sentido), fundamente sua vida no que há acima do sol, viva em função da eternidade. Não é necessário que você deixe de viver bem, se vestir bem, cuidar de sua casa e de sua família, possuir boas coisas, desfrutar o resultado de seu trabalho, e tantas outras boas coisas que se pode fazer na vida, mas não faça de nenhuma destas coisas a prioridade de sua vida. Não seja apegado a princípios tolos em detrimento da sã doutrina.
Quantas vezes ouvimos o emprego da palavra vaidade em busca da defesa de usos e costumes baseados em nossas próprias concepções! O uso de adornos, jóias, maquiagens, penteados e outros hábitos simplórios foram levados ao banco dos réus dos pecadores por serem considerados vaidade, como de fato o são. Contudo, nos esquecemos de que bons ternos e lindas gravatas, cabelos fixados com gel, sapatos pomposos, carros luxuosos e até os adornos que usamos em nossos templos são vaidades do mesmo grau. Seria isso pecado? Isto o afasta do amor de Deus? A resposta depende de sua relação com estas coisas: se sua razão de viver é a ostentação de sua boa aparência ou seus prazeres, pode ter certeza que você precisa urgentemente voltar atrás; se não for esse o seu caso, fique tranquilo, pois Deus tem prazer em vê-lo feliz naquilo que não afaste dele o seu coração.
Mantenha sempre a Palavra de Deus acima de qualquer princípio, mais viva do que qualquer tradição. Nenhum ensinamento, por mais antigo que seja, está condicionado a acrescentar à Bíblia o que ela não diz. Se você está em Cristo (no sentido mais amplo da palavra), nenhuma condenação há contra a sua vida.
Um bom conselheiro na conduta da vida cristã é o Espírito Santo. Ele testifica. Ele ensina e não nos deixa confundidos. Tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus (I Cor 10:31). Para que Deus seja em tudo glorificado em nossa maneira de viver, vestir ou usar, podemos dar aquela boa olhadinha no espelho e dizer: "Espírito Santo, se eu não estiver procedendo adequadamente, fale comigo!" Ele certamente irá testificar e colocar em seu coração o melhor a ser feito.

Com a palavra, o apóstolo Paulo:

Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras:
"Não manuseie! " "Não prove! " "Não toque! "?
Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos.
Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne. - Colossenses 2:20-23

Em Cristo Jesus,

terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma Mesa Preparada

Meu Senhor assentou-se à mesa como fez por diversas vezes. Convidou-me a compreender o real sentido da mesa que ele havia preparado. Não sei como eu pude, por tanto tempo, assentar-me ao seu lado e cear, sem ter consciência do verdadeiro motivo do convite que havia recebido...
Descobri que nas terras por onde viveu o meu Senhor não se partilhava o pão da mesa com qualquer pessoa. Apenas um seleto grupo, os mais queridos - talvez os mais respeitados - eram dignos de tomar os assentos das mesas mais desejadas.
Comigo foi diferente. Meu Senhor tirou-me dos lugares desprezíveis, cobriu o que me causava vergonha, pagou as minhas díividas, chamou-me pelo nome e fez-me tomar assento na mesa que ele havia preparado.
Não fui capaz de entender. Por que eu? Por um instante senti-me orgulhoso, e mesmo não vendo em mim nenhum valor cheguei a pensar que eu realmente o tivesse... Até que o bondoso Salvador me fez saber que o Seu banquete é um banquete de perdão, e que fui convidado justamente por ser carente do seu perdão e de misericórdia!
Descobri que na cultura dos judeus e dos primeiros cristãos, assentar-se à mesa com alguém significava muito mais que uma refeição. Se duas pessoas tivessem alguma hostilidade, a proposta de uma mesa preparada soava como uma oferta de perdão, e não se falava mais em inimizade. A mesa preparada é o símbolo da reconciliação, do perdão afinal.
Hoje sinto que possuo uma nova vida, pois perdoado como estou, sou livre do mal que carreguei por toda a vida. Agora compreendo que quando ele "prepara uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos" é para que eu os perdoe, e não para me gloriar diante deles.
Como eu poderia agradecer ao meu Jesus por ter me dado lugar à mesa do seu perdão? Pois me deu o valor que eu não merecia, quebrou o jugo que eu carregava e perdoou os  meus pecados.
Tudo o que posso fazer é dizer a você, meu amigo, que ainda há lugares na mesa. Achegue-se, tome o seu lugar e seja perdoado. Ele preparará uma mesa diante de você na presença de seus inimigos. Nesta ocasião, faça como ele: perdoe!


Graça e Paz!
Marcelo Reis.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Bíblias que recomendo

Ler e compreender as Escrituras Sagradas é (ou deveria ser) um dos pilares da vida de todo cristão. Este é , sem dúvida, um grande motivo para se levar a sério o contato que temos com a Palavra de Deus.
Às vezes sou procurado por amigos ou alunos da EBD pedindo orientação quanto a que tradução utilizar para uma boa compreensão do texto bíblico. Por isso achei interessante compartilhar com os leitores do Blog Verbo Eterno algumas de minhas preferências de tradução que costumo recomendar. Quanto às Bíblias de Estudo prefiro alertar que geralmente uma denominação adota ou recomenda a Bíblia de Estudos que mais concorde com seus ensinamentos. Isto acaba por dar ao leitor (entenda-se empurrar goela abaixo) a interpretação do comentarista prontinha, causando um sentimento de pré-concepção, premissa. O melhor auxílio no estudo das Escrituras é um bom comentário bíblico (eu uso por preferência minha o Comentário Bíblico NVI).
Além das consagradas versões Almeida Revista e Corrigida, Almeida Corrigida Fiel, e Almeida Revista e Atualizada, temos em língua portuguesa algumas traduções que fazem toda a diferença para leitores do nosso tempo devido à contemporaneidade da tradução. Seguem alguns exemplos:

Bíblia Almeida Século 21
Para quem procura um texto claro e culto ao mesmo tempo, esta é a tradução ideal. A simplificação do texto na Almeida Século 21 não fere o estilo clássico das versões de João Ferreira de Almeida, o que irritaria a muitos leitores de traduções contemporâneas. Esta versão atende muito bem a quem deseja um texto claro sem o emprego de pronomes como "você(s)" ou simplificações empobrecedoras que aparentem a perda da reverência pelo texto sagrado (o que é  uma constatação puramente pessoal). Conta também com introduções básicas, mas precisas, de cada livro da Bíblia.

Nova Bíblia Viva
Linguagem clara e atualizada, fiel à mensagem dos textos originais. Esta é a principal característica da Nova Bíblia Viva. Possui um texto agradabilíssimo, num estilo envolvente e didático. Ao ler esta versão, o leitor tem a sensação de estar lendo uma pregação. Aconselhável para grupos de estudos e para novos convertidos. Também os exegetas se sentirão mais à vontade diante de textos obscuros traduzidos com clareza nesta versão. Calendários, medidas e expressões semíticas serão narrados conforme o nosso uso comum. Assim sendo, iremos ler "9 horas da manhã" em lugar de "terceira hora do dia" e "A e Z" em lugar de "Alfa e Omega".




Nova Versão Internacional - NVI
Tanto a tradução NVI quanto a Bíblia de Estudo NVI são excelentes opções para uma boa compreensão do texto sagrado. Esta versão apresenta uma linguagem claríssima com um texto rico no emprego de palavras (embora empregue pronomes pessoais informais como "você e vocês" em vez de "tu e vós"). Embora a NVI tenha sido alvo de um verdadeiro bombardeio por parte dos defensores do Texto Recebido, acusada de diminuir em parte alguns atributos de Cristo, posso dizer que a mensagem integral da NVI não diverge em absolutamente nada da ortodoxia cristã. Alguns trechos (em alguns casos versículos inteiros) omitidos pela NVI apenas são omitidos por não constar na maioria dos mais antigos e melhores manuscritos na língua original. Toda a doutrina de Cristo e da salvação, quando omitida num trecho, é amplamente afirmada noutra parte. Esta é, com certeza, uma das melhores traduções disponíveis em língua portuguesa.


Bíblia de Estudo Palavras-Chave

Com base na consagrada tradução de João Ferreira de Almeida, na versão Revista e Corrigida - 4ª Edição, os auxílios exegéticos e hermenêuticos desta Bíblia levam a atenção  do leitor aos idiomas originais. As inúmeras notas de referência cruzada induzem, durante a leitura, a verificação do mais amplo sentido das palavras na língua original do texto em questão. Nem sempre o que o escritor tinha em mente pode ser traduzido com uma justa equivalência para o português. Nesta Bíblia, o leitor contará com o auxílio dos dicionários grego e hebraico dispostos no final do volume, que irão esclarecer o significado e os motivos do emprego de determinada palavra por parte do escritor. Além disto, notações gramaticais gregas, introduções de cada livro, notas de rodapé e uma das mais completas opções de concordância bíblica fazem desta preciosa publicação uma ferramenta indispensável nas mãos de um bom expositor da Palavra de Deus, seja ele pregador ou professor.

Bíblia NVI em Ordem Cronológica
Traz a mesma fluência da tradicional NVI, apresentada em ordem cronológica. Esta Bíblia não é organizada em livros e capítulos como nas versões tradicionais, mas em temas dispostos cronologicamente. A cronologia não é regida pela data da autoria do livro, mas do acontecimento narrado. Por exemplo, em lugar de Gn 1:1, o primeiro versículo dela é Jo 1:1 "No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus e era Deus..." - em seguida Gn 1:1 - "No princípio Deus criou os céus e a terra..." A localização dos salmos nesta Bíblia também obedece a ocasião da composição. Você não encontrará nela o "Livro dos Salmos", mas os salmos dentro do contexto de sua composição. É claro que a cronologia apresentada no exemplar não é inerrante por ser fruto da interpretação de alguns estudiosos, e não há unanimidade quanto à certeza da disposição cronológica apresentada nesta Bíblia, mas ainda assim a organização cronológica assim como está disponível ajuda muitíssimo a compreender a história do povo de Deus em cada época sem confusão de contextos. É altamente recomendável a qualquer professor ou pregador.

Bíblia Sagrada Edição Comparativa
A conciliação perfeita entre fidelidade e atualidade. A organização desta Bíblia é maravilhosa. Na coluna esquerda lemos o texto da Almeida Revista e Corrigida, paralelo ao da Nova Versão Internacional na coluna direita. A comparação entre versões é um hábito antigo de quem deseja eliminar interpretações ambíguas, e esta edição oferece o conforto de usar nos cultos duas Bíblias em um único volume.
Nela podemos unir a mais consagrada versão protestante (ARC) e a mais atual (NVI).



A Bíblia de Jerusalém
Fruto de anos de trabalho de eruditos católicos e protestantes, na  Escola Teológica de Jerusalém, a Bíblia de Jerusalém é um instrumento precioso no campo exegético. Embora a Escola de Jerusalém seja uma entidade católica romana e a BJ contenha os livros deuterocanônicos, o trabalho realizado na tradução e notas de estudo desta Bíblia agradou muito o público erudito protestante. É conhecida pelo seu texto fidelíssimo ao original, traduzido diretamente dos melhores manuscritos hebraicos, aramaicos e gregos - diferentemente das outras versões católicas, frutos da tradução da Vulgata Latina e da Vetus Latina, em latim. Uma das riquezas desta Bíblia é o apoio geográfico, cultural, histórico e contextual que oferece a passagens de difícil interpretação. Suas introduções em cada livro ou bloco de livros são interessantíssimas: recomendo a todo estudioso que deseja se aprofundar.

Espero que as sugestões apresentadas aqui o ajudem a escolher uma boa versão que lhe traga conforto e clareza no estudo bíblico. O que costumo aconselhar ao adotar uma nova tradução para consulta é o seguinte: a Palavra de Deus esposada na Bíblia Sagrada é aceita e reconhecida no seu contexto integral. A aparente divergência em textos isolados de uma versão para outra não deve desqualificar a tradução como uma perversão da Palavra de Deus, como é comumente considerada a Tradução do Novo Mundo, adotada pelas Testemunhas de Jeová.

Bons estudos a todos!
Marcelo Reis.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Bagagem

Às vezes eu comparo a vida a uma longa viagem. É certo que nem todos viajam da mesma forma e têm propósitos absolutamente distintos. Mas no caso da vida, todos temos algo em comum: uma bagagem a carregar.
Algumas pessoas levam para uma semana de viagem, o suficiente para um mês, pensando que uma grande variedade de objetos pode oferecer mais conforto. O peso do excesso de bagagem acaba por tornar o caminho mais penoso e desgastante.
Por outro lado, algumas pessoas que viajarão durante um mês levam bagagem suficiente para três ou quatro dias. Por medo de tornar o caminho cansativo demais, passam por necessidades primárias durante a viagem, às vezes vivem frustrações desnecessárias justamente por falta de bagagem.
Como disse a princípio, a vida é como uma viagem. Se tentarmos percorrer este caminho com bagagem demais, a vida se torna mais penosa e desgastante. Com o tempo, algumas coisas que encontramos no caminho precisam ser deixadas para trás, abandonadas - literalmente jogadas fora... Ansiedades, culpas, dissabores, frustrações, mágoas e principalmente o pecado. Jesus nos convida a lançar sobre ele todas as nossas ansiedades e, na cruz do Calvário, já levou sobre si todo o nosso pecado.
É necessário trocar de bagagem!
Depois de lançar fora o excesso de bagagem, que não servia para mais nada - além de fazer da vida uma viagem mais difícil - é hora de adquirir o que é realmente necessário. Ninguém é feliz ao longo da vida sem carregar consigo uma boa porção de fé, liberdade, confiança, esperança, perdão e comunhão com Deus.
Quantas vezes nos vemos numa das curvas da vida, sem saber o que fazer ou para onde ir! Quem nunca se sentiu perdido entre pessoas que vêm e vão, que não se importam umas com as outras? Aquela sensação de, por vezes, ter tomado um caminho errado... Será tão difícil assim voltar atrás e tomar o caminho certo?
Afinal de contas, qual é o caminho certo? Para onde ele o levará?
Fomos criados para a felicidade. O prazer de Deus consiste no sucesso integral de Seus filhos. Mas só há um Caminho para a felicidade. Uma vida plena e justa só é possível através de Jesus. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, o único acesso que temos ao Pai (João 14:6).
Abandone hoje o fardo que pesa sobre a sua vida. Entregue suas angústias e lance suas ansiedades aos pés de Jesus. Ele está esperando uma atitude sua em voltar atrás e, carinhosamente convida: "Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso". (Mateus 11:28 - NVI)